(Belo Horizonte)
No próximo dia 3/02, 16h, sábado, abre no Viaduto das Artes em Belo Horizonte a exposição Almofadinhas, de Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz, com curadoria de Shannon Botelho.
Almofadinhas reúne três artistas contemporâneos - Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz - numa mostra que será realizada de 03 de fevereiro a 29 de março de 2024, no Viaduto das Artes, um espaço cultural e multidisciplinar instalado na região do Barreiro (Avenida Olinto Meireles, nº 45), com obras que variam desde almofadas bordadas até instalações suspensas e de parede.
A abertura acontece no próximo sábado, 03 de fevereiro, de 15h as 19h, com visita guiada pelos artistas e o curador Shannon Botelho.
A Mostra "Almofadinhas" é realizada com recurso da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. A programação inclui oficina presencial, visita guiada e roda de conversa. As atividades são gratuitas e têm como propósito desmistificar o papel masculino em ofícios considerados exclusivamente femininos, como o bordado, proporcionando aos participantes uma experiência de caráter educativo.
O evento é destinado ao público em geral. Já a oficina virtual é voltada para estudantes de escolas públicas de Belo Horizonte e Região Metropolitana de BH, e as informações serão divulgadas no Instagram (@grupo_almofadinhas). Para os estudantes, são oferecidas também visitas guiadas, que devem ser agendadas pela direção da escola através do e-mail do Viaduto das Artes (viadutodasartes@gmail.com).
OS ARTISTAS
Fábio Carvalho é formado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ) e frequentou cursos livres no MAM-Rio, Itaú Cultural, EBA/UFRJ, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro Cultural Banco do Brasil, entre outras instituições. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção de arte no Brasil e realizou dezenas de exposições individuais e coletivas, nacionais e internacionais, com ênfase para sua participação, como artista convidado, na XXII Bienal de Cerâmica, realizada em Aveiro (Portugal), em 2015, com curadoria do espanhol Xohan Viqueira, e na VI Bienal de Cuenca, no Museo de Arte Moderno (Equador), em 1998, com curadoria de Icléia Cattani.
Rick Rodrigues é graduado em Artes Plásticas, Mestre em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e formado em Arte Contemporânea pelo Prêmio Energias nas Artes, Instituto Tomie Ohtake e Instituto EDP. Natural de João Neiva/ES, onde reside, já realizou uma série de exposições individuais, como Tratado geral das grandezas do ínfimo, na Galeria de Arte Ibeu, no Rio de Janeiro (RJ), em 2019, com curadoria de Cesar Kiraly. Ministrou cursos e participou de residências artísticas, feiras, festivais, rodas de conversa, mesas de debate e apresentações. Possui obras em acervos institucionais e particulares e, em Vitória, é representado pela OÁ Galeria - Arte Contemporânea.
Rodrigo Mogiz é Artista Visual, graduado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2003, se dedica ao bordado como desenho e pintura, estabelecendo conexões entre o artesanato e o design, buscando reflexões sobre relações afetivas a partir da sua homoafetividade e da tradição do bordado. Realizou cerca de 10 exposições individuais e participou de 52 coletivas em Belo Horizonte, onde vive e trabalha, e em outras localidades do país e exterior. Sua mais recente exposição foi a coletiva Tramas da Memória, da qual foi também curador, reunindo 26 artistas de Minas Gerais que atuam com arte têxtil contemporânea, no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, em 2022.
O CURADOR
Shannon Botelho é crítico de arte, curador independente e professor no Departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II (RJ). É doutor em História e Crítica da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ em parceria com a École des Hautes Études en Sciences Sociales/CRBC (Paris). É representante do Comitê de História, Teoria e Crítica de Arte da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Foi curador em 16 exposições, entre elas, Balangandãs (Zipper Galeria-SP 2018), Da Linha, o Fio (BNDES-RJ 2019), Estruturas Improváveis (Casa das Artes- Tavira 2020), Água Banta (MMGV-RJ 2022) e Coração na Mão (Le Salon H – Paris, 2023).
ALMOFADINHAS
No ano de 1919, meses após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), um concurso incomum mobilizou a cidade de Petrópolis (RJ). As notícias destacavam que rapazes elegantes haviam se reunido para definir quem se sobressaía na arte de bordar e pintar almofadas trazidas da Europa, especialmente para a ocasião. O escritor Raimundo Magalhães, pesquisador e conhecedor dos costumes da época, conta que o termo “almofadinha” teria surgido naquele momento para designar “tipos afetados, cheios de salamaleques e não-me-toques”. Quase um século depois, três artistas, Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz, subverteram a nomenclatura utilizada para ridicularizar aqueles homens que bordavam na Região Serrana Fluminense e se organizaram em um coletivo artístico que possui como foco de interesse o desenvolvimento de poéticas visuais centradas no bordado.
No ano de 2017, o coletivo apresentou em Belo Horizonte uma exposição que revelava ao público não somente suas obras em bordado, mas também seu pensamento e posicionamento diante de tão grandes desafios. O grupo seguiu produzindo, cada qual em seu lugar – cada um dos artistas vive em uma cidade diferente: Rio de Janeiro, João Neiva e Belo Horizonte –, apresentaram seus trabalhos coletivamente ou individualmente em outros espaços e agora retornam à cidade para apresentar alguns trabalhos inéditos e uma exposição com outro recorte e curadoria. Desde então, o tecido social em todo país foi intensamente desgastado pela polarização política, pela crise econômica e, sobretudo, pelo avanço da lógica individualista que rege o tempo presente. Por esta razão é possível perceber, no contexto da exposição, mudanças significativas nos modos de apresentar os trabalhos, seus temas e suportes. Se por um lado as identidades e visualidades parecem permanecer, os sujeitos e contextos sofreram transformações significativas.
Desde o episódio de Petrópolis em 1919, infelizmente, muito preconceito e ignorância permanecem. Mais do que nunca, a perseguição e censura aos comportamentos tidos como desviantes de um certo padrão conservador – aquele que cumpre com os estereótipos impostos por uma sociedade retrógrada, da “moral e bons costumes” – avançam em marcha assustadora. Para muitos ainda parece estranho, ou mesmo emasculante, quando homens se dedicam a atividades normalmente percebidas, pela maioria, como “coisa de mulher”: o ato de bordar lenços, paninhos de mesa e almofadas, pintar pratos de porcelana, construir objetos delicados com flores e borboletas, discutir questões de afeto, memória e sexualidade. Para os padrões de pensamento limitado, estas atividades humanas são impossíveis de coexistir lado a lado a sua noção de masculinidade. No contexto social geral, ao menos desde a Idade Média homens que bordam, certamente, não são uma novidade. No meio artístico tampouco. Bispo do Rosário e Leonilson, figuram como exemplos recentes de artistas que consolidaram as suas poéticas por meio dos bordados. Este também é caso de Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz.
Nesta exposição cada uma das obras reflete os momentos de sua própria criação e discutem as situações em que se encontram os artistas, constituindo através de suas formas, imagens e cores, narrativas singulares. No caso de Fábio Carvalho e Rick Rodrigues, por exemplo, percebemos que as armas – tema tão em voga no Brasil recente – aparecem nos trabalhos operando como signos das violências reais e simbólicas sobre os corpos e existências não hegemônicas. Já nos trabalhos de Rodrigo Mogiz, a cor é destacada e ganha outras funções, uma vez que opera como veículo de informação e definição. Camuflagens e arco-íris, figuras e textos, utensílios de bordar e objetos prosaicos passam a operar nesta exposição como agentes discursivos, ou melhor, como elementos que ratificam a diversidade, a não violência e a pluralidade – de pensamento e de existência – como sendo formas de interação com o mundo. Por esta razão os trabalhos dos três artistas estão apresentados na galeria sem uma delimitação exata, como espaços a serem ocupados por um ou outro. Cada obra apresenta a outra, completando aquilo que coletivamente é construído. Como discursividade unívoca do coletivo, esta exposição trata do presente, reflete o passado e mira outros futuros possíveis, em que pesem mais as pluralidades, os saberes coletivos, a horizontalidade das relações e a valorização do afeto como um instrumento efetivo de transformação perene do mundo.
Shannon Botelho
janeiro 2024
SERVIÇO:
exposição Almofadinhas
Abertura - 03/02 (sábado) - 15h às 19h
Visitação - 05/02 a 29/03 (segunda a sexta) – 10h às 17h
Agendamentos Escolares - viadutodasartes@gmail.com
Viaduto das Artes
Avenida Olinto Meireles, nº 45
Barreiros, Belo Horizonte, MG
Produção e Coordenação - Natalia Azevedo