[ Rosana Palazyan (RJ, Brasil) na 56a Bienal de Veneza ]

(Veneza)
abertura: 9/5/2015


Rosana Palazyan:
… Uma história que eu nunca esqueci… - 2013-2015
  Por que Daninhas? - 2006-2015




  
                                      Rosana Palazyan
                        … Uma história que eu nunca esqueci… - 2013-2015
                                       Video instalação

 “... Uma história que nunca mais esqueci...” é uma videoinstalação cujo vídeo produzido de forma ‘artesanal’ não tem pretensões de virtuosismos técnicos, mas de reordenar ou organizar a memória fragmentada sobre o genocídio armênio (c. 1915 a 1920) com base nas histórias e relatos ouvidos ao longo da vida desde a infância. Uma história que sempre foi impossível esquecer, pois o esquecimento seria o esquecimento do próprio ser. 

Brasileira de ascendência Armênia de ambos os lados, tendo iniciado minha carreira no final dos anos 80 e cercada por episódios de violência, traumas sociais, econômicos e políticos em meu país, não me sentia a vontade para tratar do tema “Armênia”. Minha urgência era aproximar as pessoas adormecidas pela banalização do cotidiano a estas questões. Desde então, venho buscando delicadamente ampliar, e potencializar a reflexão sobre a violência e exclusão no tecido social, onde todos acabam vitimados.

Ao ser convidada para participar da 4ª Bienal de Thessaloniki, cidade onde meus antepassados e seus amigos sobreviventes se refugiaram durantes alguns anos, o passado tão distante, estava diante de mim, tão próximo...

 E “quem lembra do genocídio armênio?” Eu lembro.

Foi preciso remontar cada fragmento da memória como em um quebra cabeças, carregado de enorme custo pessoal, para recontar mais uma vez uma história que me foi contada e que nunca esqueci. Lembrar e fazer lembrar para nunca mais acontecer.

O fio condutor da história é um lenço bordado por minha avó materna, quando refugiada em Thessaloniki (Grécia) com o apoio de Armenian General Benevolente Union (AGBU), onde muito jovem foi professora de bordado. O lenço transformado a cada episódio, perpassa a história desde a memória de infância (em Konya), a vida na Grécia como refugiada, a viagem ao Rio de janeiro por volta de 1926 (e sua nova vida) - até que o lenço retorne como parte integrante da obra a ser apresentada na bienal.

Escrevo este texto no calor dos acontecimentos quando nos últimos dias em meu país, jovens, mulheres, crianças, famílias, estão nas ruas lutando por seus direitos, vivendo momentos que não vivenciamos há muitos anos. O que tem me feito pensar na proximidade de todos os projetos e experiências que a arte tem me possibilitado realizar.

Se não muda o mundo, tenho vivido a arte como um percurso do entendimento e encontro com o Outro. E de forma incansável tenho me dedicado a transformar as relações das pessoas frente a questões tão urgentes, na tentativa de fazer acionar a mobilização para um mundo melhor.

Rosana Palazyan, Junho de 2013


         


  
              Rosana Palazyan
              Por que Daninhas? - 2006-2015
              Site specific - The Closter Garden,  Mekhitarist Monastery
              Island of San Lazzaro degli Armeni, Venice


A série Por que Daninhas? (2006/20015) apresenta objetos como relicários, contendo uma planta real considerada daninha sob um tecido transparente. A planta é fixada com um bordado imperceptível que acompanha seu contorno. As raízes foram substituídas por frases sobre plantas daninhas, bordadas com meus fios de cabelo. Ambos, plantas e seres humanos tem seus DNAs representados.

As frases-raízes foram extraídas de livros de agronomia consultados em minha pesquisa sobre plantas daninhas durante o processo da obra No lugar do Outro (2006)*. Trabalhando com o conceito de transformação na vida de pessoas que vivem nas ruas, em paralelo a metamorfose das borboletas - minha curiosidade sobre as daninhas deu inicio ao ler que “algumas espécies de borboletas encontram-se em extinção em conseqüência do extermínio de plantas daninhas”.  Então, o que é realmente uma planta daninha? O título Por que daninhas? questiona a terminologia utilizada para caracterizar seres vivos que são considerados indesejados.

Frases como: “poderia crescer em seu lugar algo de uma beleza mais exuberante” ou “são vistas como inimigos a serem controlados” são muito semelhantes às palavras que ouvi de algumas pessoas, durante a pesquisa nas ruas e meu envolvimento com pessoas que vivem em situação de rua.

“ Qualquer espécie pode ser considerada daninha quando nasce onde não é desejada e compete por espaço e nutrientes com culturas economicamente produtivas” – esta frase me fez ampliar a reflexão sobre pessoas e plantas consideradas daninhas. Qualquer um pode ser considerado “daninha” em algum momento ou inserido em algum contexto.

Em 2010 o trabalho adquiriu um novo corpo quando montado em suportes semelhantes às legendas para plantas nos jardins botânicos e fez parte da instalação O Jardim das Daninhas (Casa França Brasil, R.J.). Um jardim onde plantas consideradas daninhas foram cultivadas junto a plantas ornamentais e medicinais – propondo uma reflexão sobre como viver junto e quem seriam as daninhas neste jardim?

Agora, peças fotográficas representando Por que Daninhas? serão instaladas no jardim interno do Mosteiro Mequitarista na ilha San Lazzaro degli Armeni (Veneza). E as plantas daninhas que crescerem naturalmente no jardim não serão removidas, vivendo juntas às plantas ornamentais já existentes.

Nesta exposição específica, no Pavilhão Armênia da 56ª Bienal Internacional de Arte de Veneza, Por que Daninhas? é um desafio e com uma abrangência maior propõe a reflexão de acontecimentos como genocídios, as imigrações caracterizadas indesejadas por alguns países, a exclusão social e o racismo, inflados por palavras e rótulos como: “ nascem onde não são desejadas”; “ são invasoras e devem ser exterminadas”.

Rosana Palazyan, Janeiro de 2015



56th Bienal Internacional Art exhibition
La Biennale Di Venezia - 2015
The National Pavilion of the Republica of Armenia
Mekhitarist Monastery, Island of San Lazzaro degli Armeni, Venice
Opening - May 9, 2015
    
  
Artistas Contemporâneos da Diáspora ArmêniaCuradoria: Adelina Cüberyan Von Fürstenberg

No simbólico ano de 2015, por ocasião do marco dos 100 anos do Genocídio Armênio, o Ministério da Culturada República da Armênia dedicou seu pavilhão para os artistas da diáspora armênia.(...)  
Saiba mais em: 
www.armenity.net

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