[ Fábio Carvalho realiza em Portugal a intervenção urbana "Migração Monarca" ]


Fábio Carvalho está mais uma vez em Portugal, onde realiza a intervenção urbana "Migração Monarca" em junho, durante as tradicionais "Festas de Lisboa". Nesta época, que vai de finais de maio até início de julho, tendo seu auge no dia de Santo Antônio (13/6), padroeiro popular dos lisboetas, algumas áreas de Lisboa, especialmente no Alfama, se cobrem de ornamentações e barraquinhas de comidas típicas, tudo acompanhado de muita música e desfiles populares. O tema das festas em 2014 é a "Peregrinação", livro de Fernão Mendes Pinto, que completa 400 anos da sua publicação.


Os "Monarcas" são impressões com tinta acrílica em folhas de papel de seda branco, de tamanho aproximado ao de uma bandeirinha de festas de São João. A impressão foi feita com o uso de carimbos de borracha produzidos à mão pelo próprio artista, a partir de um desenho original de sua autoria de um soldado em uniforme camuflado, com asas de borboleta saindo de suas costas.

As "bandeirinhas" são coladas em linha branca, para serem penduradas pelas ruas em meio às ornamentações já existentes. Migração Monarca é uma intervenção urbana discreta, de pequena escala, que como os soldados em tocaia nas matas, se camufla sutilmente de ornamentação. Porém, devido a vibração das cores das asas, e o farfalhar das folhas ao vento, a qualquer momento capturam a atenção dos passantes, que por vezes se mostram intrigados com o que veem. Foi observado que em alguns casos há uma associação quase imediata ao 25 de abril, dia de comemoração do início da Revolução dos Cravos, que deu fim à ditadura de Salazar em Portugal, que completou 40 anos em 2014.


O uso da borboleta monarca (Danaus plexippus) em alguns dos trabalhos de Fábio Carvalho vai muito além do simples fato de borboletas serem normalmente associadas ao universo feminino, frágil e delicado, que em oposição aos símbolos usualmente pensados como masculinos, de força e virilidade, como os militares, formam a principal dialética de sua produção artística, que procura levantar uma discussão sobre estereótipos de gênero, e questionar o senso comum de que força e fragilidade, virilidade e poesia, masculinidade e vulnerabilidade não podem coexistir.

Seu uso surgiu também como um contraponto à camuflagem dos uniformes militares. As borboletas monarca são tóxicas, e por isso evitadas pelos predadores. Há outras espécies de borboleta não venenosas que mimetizam (imitam) o padrão exuberante da monarca, que assim são também evitadas pelos predadores. Com a camuflagem, procura-se misturar ao ambiente, para não ser visto. Já no mimetismo acontece o oposto, trata-se de chamar muita atenção. Ambos são porém igualmente estratégias de sobrevivência e proteção, que objetivam confundir e enganar, ao se fingir ser algo que não se é.


A borboleta monarca é a única espécie de borboleta a realizar uma migração longa, chegando a voar até 4.800 Km para chegar ao seu destino. A sua migração de reprodução, quando se tornam mais ativas, se dá na primavera do hemisfério norte.

Deste aspecto migratório da borboleta monarca, somado ao fato de que o trabalho foi originalmente criado no Rio de Janeiro, e a ida de Fábio Carvalho para Portugal, durante a primavera do hemisfério norte, mesmo período da migração das borboletas monarcas, surge Migração Monarca, que é um desdobramento da obra Parada Monarca, ainda inédita, e que será apresentada brevemente na exposição Papel de Seda, no IPN - Museu Memorial, na Gamboa (Rio de Janeiro), com curadoria de Marco Antonio Teobaldo.


O curioso é que as borboletas monarcas começaram recentemente a aparecer com frequência em Portugal continental, na região do Algarve, fato que jamais havia sido registrado até o início do século XXI.

Fábio Carvalho participará ainda em Portugal de uma residência artística na São Bernardo Ceramics, em Alcobaça, com curadoria de Maria de Fátima Lambert, curadora residente no Porto, Portugal, atuante em todo aquele país e no exterior, incluindo o Brasil, cujo resultado será apresentado no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.

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