[ Plastic World ]

(Rio de Janeiro)
até 19 de janeiro de 2013



Osvaldo Carvalho apresenta na galeria Cosmocopa sua mais recente produção em pintura: "Plastic World", com abertura no dia 13/12/2012, de 19h às 22h, seguindo até 19/01/2013,
Plastic World é o nome da série de 6 telas em grande formato, na qual, por meio do deleite visual, faz um convite à introspecção e à reflexão.

Quero e vou continuar olhando porque me vejo aqui
por Marco Antonio Portela

Essa mostra do artista Osvaldo Carvalho nos coloca frente às suas pinturas e seus delírios poéticos carregados de uma atmosfera intimista, verdadeiros assuntos de família, coisas de casa, desatinos de todos nós. O trabalho aqui apresentado tem o poder de nos parecer próximo, algo intrínseco e reconhecível; numa primeira olhada parece que estamos entrando no conforto e segurança de nossas moradas. Sutilmente sua pintura nos coloca frente a situações e representações que nos vai tirando desse lugar tranquilo e de conforto e nos atira num mix de emoções e realidades mais obscuras, reafirmando a complexidade da condição humana. Situações essas que muitas vezes, e porque não dizer em sua maioria, se apresentam quando estamos em aparente estado de segurança propiciado pelos nossos ambientes mais pessoais: família, amigos, lar.

A pintura é deliciosamente convidativa, porém dicotômica que sempre apresenta uma tensão, por vezes bem explicitada e por outras bastante dissimuladas, mas ela está ali, forçando nosso olhar, nos incomodando como grão de areia no sapato. Ao mesmo tempo em que Osvaldo nos presenteia com uma pintura que nos deixa em contato com uma brandura que remete a cortina ao vento, estampas, sofá da sala, livros, nos colocando em um grau de aconchego e aparente segurança, típica representação do lar idealizado, ele também traz à tona certos mistérios, medos, tabus, coisas que tentamos empurrar para debaixo do tapete. Esse lado estranho e obscuro de todos nós surge hora de forma mais explícita, hora de forma mais velada na pintura do artista. Interessante notar a série de trabalhos que parecem pintados sobre papel de presentes de natal, aparentemente ingênuos, infantis; fazendo lembrar a série Assim é se lhe parece – mapas, de Nelson Lerner, construídos com adesivos ”Hello Kitty” , “Disney”. Nelson procura num jogo lúdico de humor rascante falar da divisão política e socioeconômica do planeta, do valor de mercadoria e arte; Osvaldo parte para refletir acerca da psicologia e condição humana. Mais uma vez, brincando, o artista nos apreende em sua teia poética, como moscas distraídas.

Essa característica de ser extraordinariamente atraente e belo, remetendo a um lugar de segurança e placidez, e logo depois apresentar habilmente um lado menos encantador e mais temerário é extremamente sedutora por ser uma metáfora de todos nós, por haver um reconhecimento e um espelhamento da nossa condição humana, nossos acertos e falhas, nossos temores e conquistas, nossas idiossincrasias.  Como o próprio artista sentenciou: “... gosto dessa ideia de falar de algo que parece inofensivo, mas latente, e que vai causar uma grande transformação. As pinturas têm esse princípio em suas faturas, cada uma com seu ar ingênuo mas à beira do precipício.”

A pintura de Osvaldo acerta em cheio como a simplicidade de um retrato de grupo de amigos num churrasco onde o importante é ver se saímos bem na foto; contudo, se continuarmos a olhar atentamente para esse mesmo retrato, identificaremos as diversas camadas que ele apresenta, revelando o cerne de cada um dos retratados. Nessas pinturas do artista não temos nossos rostos e corpos representados, mas temos muito da essência de todos nós, uma natureza universal que conecta a todos. Aquele emaranhado de situações que permeiam nossas vidas, hora de forma feliz, harmoniosa e limpa, hora com uma obscuridade que lutamos para mantê-la longe dos olhos dos outros, por vergonha ou por ignorância.

Essa série, Plastic World, e esse momento do artista que de forma madura consegue realizar obras de grandioso apelo plástico, delicioso deleite visual, convite total a introspecção, também conseguem tocar nossos temores e monstros com os quais lutamos diariamente. É nesse campo dual que surge a tensão que desloca a pintura de Osvaldo Carvalho para um patamar de verdadeira importância expositiva ao mesmo tempo em que agrega caráter universal à sua produção.

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