[ Pequenos Formatos 2011 ]

(Porto Alegre)



O Atelier Subterrânea (Av. Independência, 745/Subsolo- Porto Alegre) abre o ano de 2011 com a 5º edição da Mostra Coletiva Pequenos Formatos, a ser inaugurada no dia 17 de março, quinta-feira, às 19h. O evento comemora as conquistas ao longo de cinco anos, mas também anuncia mudanças: o fim da realização de sorteios de obras de arte durante a abertura das exposições (números a R$10,00).

Este ano integram a mostra 44 artistas de diferentes gerações e atuantes em diversas regiões do Brasil e do Uruguai.

De Porto Alegre participam Alexandre Antunes, Anderson Astor, Bruno Borne, Carla Borba, Carlos Pasquetti, Elida Tessler, Eduardo Montelli, Ernani Chaves, Luciano Montanha, Felix Bressan, Juliano Ventura, Mariana Xavier, Monty Pelizzari, Nara Amélia, Rafael Pagatini, Raquel Alberti , Romy Pocztaruk e Tomas Barth; de Pelotas, Adriane Hernandez e Ricardo Mello; de Santa Maria, Nara Amélia; de São Paulo, Carla Chaim, Cleiri Cardoso, Eduardo Kickhöfel, Júnior Suci, Marcelo Moscheta, Manoel Veiga, Ivan Grilo e Wagner Malta Tavares; do Rio de Janeiro, Carlito Carvalhosa, Carlos Vergara, Carolina Veiga, Jorge Soledar, Julio Castro e Luiz Ernesto; de Recife, Marcelo Silveira; de Goiania, Marcelo Solá; de Belo Horizonte (Desvio), Janaína Melo e Gambiologia; de Montevidéu/Uruguai (Galeria Marte), Ernestina Pereyra, Federico Arnaud, Francisca Maya, Gustavo Tabares, Mercedes Bustelo e Paola Monzillo.

Ao longo das cinco edições, 125 artistas doaram obras para sorteios, buscando estimular o colecionismo na cidade, sendo que o público teve uma ampla possibilidade de dar início a sua coleção particular de arte.

Na conversa com os artistas, a ser realizada no dia 19 de março, sábado, às 16h, será posto em discussão o colecionismo, a partir da avaliação da prática dos sorteios no Atelier Subterrânea. Este debate está presente também no texto de apresentação da mostra, realizado por George Kornis, um dos maiores colecionadores de obras de arte em papel do Brasil.

Exposição Pequenos Formatos 2011
Abertura: 17 de março, quinta-feira, 19h (entrada gratuita)
Sorteio de 44 obras doadas na abertura, às 22h, números a R$10,00
Local: Atelier Subterrânea (Av. Independência, 745/Subsolo – Porto Alegre)
Mais informações pelo email: contato@subterranea.art.br
Visitação: de segunda a sábado, das 14h às 18h
Conversa com artistas: 19 de março, sábado, às 16h, no Atelier Subterrânea.
Encerramento: 22 de abril de 2011.

[ Casa Forte - Renato Bezerra de Mello ]

(Fortaleza)




Curadoria de Marcelo Campos

abertura: 15 de março, terça-feira, 18h
até 17 de abril de 2011

A exposição procura estabelecer vínculos entre a produção de Renato Bezerra de Melo e conceitos de casa, memória e esquecimento. Na produção do artista, os guardados da casa, as imagens registradas em fotos e vídeos, além da representação onírica e fantasiosa frequentam o universo dos desenhos, vídeos, objetos e stills. É no universo das memórias, das cópias e reproduções que se desenvolve o seu trabalho, constituindo o que poderíamos chamar de uma “ memória ficcional”, que se refere à noção de uma história da arte que não se orienta apenas por critérios formais, mas como representação em si.

Centro Cultural Banco do Nordeste - Fortaleza
Rua Floriano Peixoto 941, Fortaleza - CE
85-3464-3108
cultura@bnb.gov.br
www.bnb.gov.br/cultura
segunda a sábado, 10-20h; domingo, 10-18h

Na produção do artista Renato Bezerra de Mello os guardados da casa, as imagens registradas em fotografias e vídeos, além da representação onírica de situações fantasiosas frequentam o universo dos desenhos, vídeos, objetos, stills. Renato alia reminiscências a uma subversiva atitude de desintegração dos vestígios do lar: taças quebradas, papéis com rabiscos quase ilegíveis. Na exposição “Casa forte”, busca-se um diálogo atualizado, no qual a arte contemporânea de Renato Bezerra de Mello possa constituir interpretações, ao mesmo tempo amplas e particulares, da casa, da família, mas também do sentido de lar que guardamos nas nossas subjetividades.

Casa Forte é o nome do bairro de Recife onde a casa que deu origem ao projeto existiu. Renato assistiu, pesquisou e vivenciou os dias de ascensão e ocaso em que a residência familiar tornara-se ruína. Mas, aqui, tudo é refeito sem a tentativa óbvia de resgate do tempo perdido. Agora a casa existe como fortaleza na memória da arte que insiste em tratar do etéreo, do transitório, da infância. Como na atitude do escritor Marcel Proust, criamos pequenas âncoras para içar do cotidiano sentimentos que compartilhamos em quaisquer abrigos: saudades, revolta, medos. Sentimentos fadados à instabilidade.

Na exposição, são apresentados desenhos feitos em carbonos com cenas da casa que se misturam aos azulejos, ao mobiliário e às pessoas que a frequentavam. Em outra série de desenhos, com finos traços sobre papel vegetal, vemos referências a detalhes de ambientes arquitetônicos marcando impregnações do silêncio: escadas, umbrais, guarda-corpos, parapeitos. A fluidez do vazio corrobora tanto com uma espécie de melancólica reflexão sobre a desumanização da arquitetura, quanto com a esperança de dotar os lugares de anima, comunhão familiar, tradições inevitavelmente com data de validade. A infância aparece na instabilidade da menina, ampliada na fotografia, criando uma ação cíclica e lúdica de pular cordas. O vídeo que dá título à mostra encena parte da desagregação da Casa Forte mesclando cenas de brincadeiras e alegrias com o impacto de uma sala congelada no tempo. Apresentamos, assim, metáforas para nossa atitude diante do destino.

O Tejo não é igual ao rio que corre na minha aldeia, afirmara Fernando Pessoa. A consciência de ir em busca do desconhecido também atravessa esta exposição. Sim, o Tejo é bem maior do que o rio que corre em qualquer aldeia. Mas, Renato Bezerra de Mello vai à procura de adventos memoráveis, em viagens, em museus, em imagens eróticas, quebrando, assim, as afetações e os bons costumes das regras civilizatórias. No trabalho em que o artista apresenta centenas de cartões-postais de viagens para dentro e para fora de seu país natal, vemos a ambivalência do estar-no-mundo. Saber que existe o encantamento por obras-primas é, segundo observamos nas imagens, tão importante quanto colecionar banalidades. Aqui o memorável cria avessos e aversões; insultos, melancolias, êxtases, catarses são escritos nos cartões, pelo artista, que os envia a si mesmo. Como numa ação performática, o correio traz a mensagem de um dia para o outro, postadas do mesmo lugar onde reside o artista, ou atravessa mares, encontrando-o longe. A surpresa, a sabotagem, o mistério que já vem com o fim previsível.

Para título da série de postais, Renato escolhe excertos de um poema de Konstatinos Kaváfis e nos dá pistas sobre suas conclusões: “Não acharás novas terras, tampouco novo mar. A cidade há de seguir-te”. Aqui reside não somente a contradição da busca do artista por novos portos, mas também a constatação existencial e antropológica dos caminhos da mobilidade. De que adianta guardar, lembrar, preservar? “cada coisa tem um instante em que ela é”, diria Clarice Lispector embevecida com a cinza das horas. A cidade, então, já nasce para desfazer as tramas que pretendem a imortalidade, o âmbar, os fósseis. Portanto, “Casa forte” é nome encantado, pretendendo a magia, o feitiço, tentando a invocação. Porém, a urbanização do mundo se estende sobre casas, rios e mares. A casa jamais será tão forte quanto o nomadismo, a mobilidade. Construir é um paradoxo para um “fenômeno que não corresponde a um novo sedentarismo, mas a novas formas de mobilidade”, afirmará Marc Augé. É essa contradição que interessa a Renato Bezerra de Mello, como fazer arte com o que já não é mais, o que já foi demolido, substituído? E, além disso, Renato ora acumula, como os carbonos, ora descarta, como as taças de cristais.

Na viagem ao sertão, como coleta de imagens para outro trabalho do artista iniciado há alguns anos, capturávamos ciclistas, entrevistos das janelas dos carros e táxis em movimento. Na surpresa do clic, qual a da campainha ou dos escaninhos que poderiam trazer cartões de si para si, tentávamos enlaçar a velocidade dos passantes, dos que tinham algo a fazer, dos que venciam a inércia do tempo para objetivos diversos, intuídos, mas desconhecidos por nós. Como resultado, imagens erráticas, vazios intervalares. Entre o voyeur e o transeunte, a mesma moral, a mesma constatação: o Tejo existe em qualquer cidade, como busca, como fabulação e “a esta cidade sempre chegarás”.